Cultura Erudita
Os produtores da chamada cultura erudita fazem parte de uma
elite social, econômica, política e cultural e seu conhecimento ser proveniente
do pensamento científico, dos livros, das pesquisas universitárias ou do estudo
em geral (erudito significa que tem instrução vasta e variada adquirida
sobretudo pela leitura). A arte erudita e de vanguarda é produzida visando
museus, críticos de arte, propostas revolucionárias ou grandes exposições,
público e divulgação.
Cultura Popular
A cultura popular aparece associada ao povo, às classes
excluídas socialmente, às classes dominadas. A cultura popular não está ligada
ao conhecimento científico, pelo contrário, ela diz a respeito ao conhecimento
vulgar ou espontâneo, ao senso comum.
“A obra de arte popular constitui um tipo de linguagem por
meio da qual o homem do povo expressa sua luta pela sobrevivência. Cada objeto
é um momento de vida. Ele manifesta o testemunho de algum acontecimento, a
denúncia de alguma injustiça” (AGUILAR, Nelson (org). Mostra do Redescobrimento:
arte popular. In: BEUQUE, Jacques Van de. Arte Popular Brasileira, p. 71). O
artista popular não está preocupado em colocar suas obras expostas em lugares
prestigiados.
Nesse sentido, o mais importante na arte popular não é o
objeto produzido, e sim o próprio artista, o homem do povo, do meio rural ou
das periferias das grandes cidades. Por isso também a arte popular é sempre
contemporânea a seu tempo. Por exemplo, a arte popular do século XVIII (as
cantigas, poemas e estórias registradas pelos estudiosos) é bem diferente de
outras formas de arte popular hoje, como o rap, o hip hop e o grafitti, que
acontecem nas periferias dos grandes centros urbanos como São Paulo. O rap e o
hip hop aparecem associados quase especificamente à população negra, excluída
socialmente.
A cultura popular é
conservadora e inovadora ao mesmo tempo no sentido em que é ligada à tradição
mas incorpora novos elementos culturais. Muitas vezes a incorporação de
elementos modernos pela cultura popular (como materiais como plástico por
exemplo) a transformação de algumas festas tradicionais em espetáculos para
turistas (como o carnaval) ou a comercialização de produtos da arte popular
são, na verdade, modos de preservar a cultura popular a qualquer custo e de
seus produtores terem um alcance maior do que o pequeno grupo de que fazem
parte.
O artista popular
tira sua “inspiração” de acontecimentos locais rotineiros, a arte popular é
regional. Por isso a arte popular se encontra mais afetada pela cultura de
massas que atinge a todas as regiões igualmente e procura homogeneizá-las
culturalmente do que a erudita.
O produtor de cultura popular e o de cultura erudita podem
ter a mesma sofisticação, mas na sociedade não possuem o mesmo status social -
a cultura erudita é a que é legitimada e transmitida pelas escolas e outras
instituições. É importante ressaltar que os produtores da cultura popular não
têm consciência de que o que fazem têm um ou outro nome e os produtores de
cultura erudita têm consciência de que o que fazem tem essa denominação e é
assunto de discussões, mesmo porque os intelectuais que discutem esses
conceitos fazem parte dessa elite, são os agentes da cultura erudita que
estudam e pesquisam sobre a cultura popular e chegam a essas definições.
Cultura de Massas
A existência da Indústria Cultural e de uma nova cultura
veiculada por esta, a cultura de massas, que não está vinculada a nenhum grupo
específico e é transmitida de maneira industrializada para um público
generalizado, interfere na existência de uma cultura erudita da elite e de uma
cultura popular do povo. Hoje, a maioria da população vive aglomerada nos
centros urbanos, assim, os setores sociais excluídos se aproximam
geograficamente dos setores privilegiados, são as diferentes classes sociais
vivendo relativamente no mesmo espaço.
A Indústria Cultural
é uma indústria que não fabrica produtos concretos, vende uma ideologia,
vende visões do mundo, vende idéias, desejos. Feita para uma massa de pessoas,
esses bens culturais são veiculados pelos meios de comunicação de massas, aí
surge a cultura de massas (o produto da Indústria Cultural). A cultura de
massas não é uma cultura que surge espontaneamente das próprias massas, mas uma
cultura já pronta e fornecida por outro setor social (que controla a produção da
Indústria Cultural), a classe dominante. Portanto, na vida em cidades
(residência das massas) e com a Indústria Cultural a cultura passa a ser algo
externo às pessoas, não mais de produção delas mesmas.
Podemos analisar a cultura de massas como um ponto de
intersecção entre a cultura erudita e a cultura popular porque os elementos
próprios da cultura de massas são consumidos tanto por setores mais excluídos
da sociedade quanto por elites, é como se representasse algo em comum entre
esses setores. A cultura de massas funciona como uma ponte entre a cultura
erudita e a cultura popular, mas uma ponte prejudicial, porque na verdade ela
ignora totalmente as diferenças entre os produtores dessas duas culturas e se
direciona para um público abstrato e homogêneo.
O desenvolvimento tecnológico tornou possível reproduzir
obras de arte em escala industrial, então inúmeros livros passam a apresentar
por exemplo uma pintura de Picasso e uma massa de população passa a ter acesso
a essas pinturas, não necessariamente entendendo-as como alguém de seu contexto
histórico e que fazia parte do mesmo setor social que esse pintor, ou então
alguém que faz parte da classe dominante atualmente e que tem conhecimento a
respeito do pintor e de seu contexto. Não podemos encarar essa difusão da
cultura erudita entre parcelas da população antes privadas dela pelos meios de
comunicação de massas uma democratização dessa cultura, isso porque o público
popular não têm a mesma instrução que as elites, que cresceram em meio a essa
cultura e foram instruídos para entendê-la.
Não é porque há, atualmente, no Brasil uma cultura comum a
todas as parcelas da sociedade que estas parcelas se misturam. O Brasil é hoje
um país extremamente audiovisual, a maioria da população não tem acesso a
educação ou sequer é alfabetizada, nessas condições é natural que o rádio e a
televisão (que atingem quase todo o território brasileiro) adquiram o status de
principais (e únicos para algumas pessoas) meios de comunicação de veiculação
de bens culturais, meios como jornais e livros por exemplo são de acesso
restrito a uma parcela da população. Nessa situação, imagine a quantidade de
pessoas que costumam visitar museus por exemplo.
Nas próximas partes desse trabalho o foco será a Bienal de
São Paulo, porque ela consiste em um evento de artes plásticas acessível à
população que normalmente não freqüenta exposições de arte. A Bienal, para esse
público, aparece como algo inusitado, incomum e completamente novo.
Segundo o filósofo alemão Walter Benjamin, uma obra de arte
ao ser reproduzida perde sua “aura”, que seria seu caráter único e mágico
(típico da cultura erudita), mas em compensação isso possibilitou que elas
saíssem dos museus e coleções particulares para serem conhecidas por um número
muito maior de pessoas, assim, as técnicas de reprodução das artes poderiam
contribuir para uma revolução na própria política das artes plásticas, que
antes eram exclusivas da elite e parte da cultura erudita e passam a ser
acessíveis às massas.
Mas, como será verificado no decorrer do trabalho, isso não
significa uma democratização da obra de arte, nem contribui para a
conscientização das massas. Isso não acontece com a reprodução das obras de
arte e nem com outro fenômeno que aproxima as massas da obra de arte: as mega
exposições.
Nenhum comentário:
Postar um comentário